quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

canção calórica

nada vem do vão da janela
não vem brisa, não vem ela
nada bem está quem precisa
duma ducha, sem camisa

nada tem quem larga e não puxa
- com mais força! e mais, puxa! -
nada além de choro e lamento
quando corta fio o vento

nada bem quem deixa pra trás
o sofá mofado dos pais
nada bem melhor e molhado
quem do mar acena ao passado

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

lâmina cega não corta
mas quem vê logo pressente
pânico e dor na aorta
quando a sente, cego, rente

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

precavida

quem aqui chega
embrulhado em placenta
ungido por lágrimas
não se apercebe de imediato
da aspereza do mundo

mil cicatrizes depois
já seco e erodido
finca com firmeza
a sola do pé no solo
pois teme partir

e fincando se parte
e parte comigo fica

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

da pequenez das coisas insignificantes


daqui a muito tempo
bem longe daqui
alguém olhará para o céu
como sempre se faz
e dentre cintilações várias
perdida
uma pequena estrela
em volta da qual um pequeno
mundo habitado por grandes
pessoas e dramas
há muito morta
brilhará
num piscar
desfaz-se toda lembrança
de tudo de tão importante
que a tantos importunou
perde-se a medida
do fio da meada
e da violência escalada
e de mais tumba descida
ao coro rouco de vozes
um dia grandes, há muito
pela mais reles e pequenina
criatura vencidas

terça-feira, 30 de setembro de 2014

dormem todos e sonham-se despertos
toda luta e rotina, passatempos
vaga mente entre água, fogo e vento
acredita dos sonhos estar perto

quanto mais se aproxima, tão mais certo
tudo mude, ruindo entre lamentos
na memória sepulta a exemplo
do que não se fazer para dar certo

recomeços sem fim na noite eterna
seja rei ou escravo, a mente hiberna
procurando por algo onde não há

há papéis que se dão uns para os outros
seja rei ou escravo, nenhum solto
pesadelo sonhando até acordar

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

amorfo
pelas beiras
anda devagar
vasculha
tateia
inseguro
indeciso
qual rota
pelo muro
apagar?
escolhas
são dos vivos.
sobrevivente
dos mortos
só a eles deve
seu apego e lar.
nenhuma e todas
vias colhe
entre mortas
folhas
quem jaz
mofo

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

.

ramos e remos
à beira rio. rumor
de águas sem rumo

ramos e remos
à beira rio. furor
de fim de estio

.

sábado, 13 de setembro de 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

inominável

inócuo
é teu nome hoje
entoado

quando pretos
meus pêlos
eriçados
e meu fôlego
de uma só vez
tomado
era encanto

então
foi fel
veneno infiel
vitriol
conserva de tantos
prantos
em formol

o invoco
e ele me foge
aos lábios
agora

um invólucro
frágil que protegia
do lado de fora
o que de nós
soprou:
vácuo

domingo, 24 de agosto de 2014

.

a cor de uma flor
vistosa e característica
é na verdade um engano
da luz solar de todas as cores
que lhe batem e que colhe
a cor que nos chega à vista
é exatamente a que renega
explica a física

.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

chagas



é o eco
de minha voz
em teus ouvidos
a tremular cacos
de vidro no negrume
do quadro negro riscado?
é débil o molejo gestual
exibido multifacetado no fio
com que gracejas desdenho
imposto a fachadas fechadas.
as ruas perseguem teus passos
os muros se juntam ao meio-fio
e calçadas e janelas espiam.
teus pecados expostos em rubra tinta
chagas que só o tempo apaga


quarta-feira, 13 de agosto de 2014





eis o sentido da vida:
sempre pra frente, cabeça
erguida, caminhe à beça
sempre buscando a saída




domingo, 10 de agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

triste não é o dedo em riste, é o que deita e dedura o quanto riste

.

.

no topo, em néon
uma estrela. fachada
d' hotel fechado

.

queimadas

sou solo fecundo para famintas raízes
brotaram-me à face com avidez de seca
tateando, dedilhando cada rota de meu olhar
tal que hoje só vejo um emaranhado de sombras

se suspiro, folhas secas me abafam a voz
se lágrimas derramo, crescem com mais vigor
meus murmúrios são os ecos duma floresta
onde me perdi um dia sem sair do lugar

ansiei duma fogueira seu crepitar caloroso
queimando a mim mesmo, quem sabe desgarram?
mas hoje respiro cinzas, tenho a face cinza
e das cinzas das raízes brotam fundas cicatrizes

segunda-feira, 4 de agosto de 2014



quem nunca pecou que jogue
pra fora a dieta e vá
urgente comer xisburgue
antes de ser tarde, tá?

domingo, 3 de agosto de 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

prima pobre, desdentada
sempre atrás duma migalha
se acha nobre quando cada
prima rica pula e malha

quarta-feira, 30 de julho de 2014

sabatina de dilma



embaixo de sua batina
mil lamúrias foram ouvidas
mas algumas das mentiras
entram em saias, comovidas

carnificina



a matança continua...
ser humano é ser um porco
condenado à fartura
de razão para ser morto

terça-feira, 29 de julho de 2014

nossa morta acende

aqui nos reunimos, lenço à mão
com vozes embargadas, feições duras
na chuva que acompanha as sepulturas
de toda relação, quer viva ou não

de nossa, que dizer? foi nosso chão
polido com suor, onde perdura
apesar de nosso esforço, mancha escura
raiz de nossos males desde então

andava muito pálida e soturna
no céu, o lago azul já não lhe prende:
voando qual barquinho, as nuvens fura

pois sempre o horizonte está à frente
e assim também a vida continua.
num barco à vela, nossa morta ascende



* o título e mote do soneto foi inspirado num título de um poeteiro de meia tigela de amor: "Nosso Amor Transcende"

domingo, 27 de julho de 2014

aquarela


busco aquela qualidade indefinida
que se encontra nas melhores aquarelas
onde arde a luz solar e te convidas
a viagem matinal por barco a vela

e transporta além do espaço onde se abriga
solo fértil para manchas e procelas
em torrentes derramando-se aguerridas
à mão firme que pincela sobre a tela

não está no enquadramento ou nas cores
nem tampouco em seu traçado ou naquela
paisagem sempre em mente aonde fores

é a cria dos teus óleos em m'ia pena
a tornar uma moldura uma janela
onde enfim tu me encontras e me acenas

.


Deus não se vê, nem se prova
vive de fé, tão somente
perda de tempo e de mente
buscar por luz ante à cova


.

frases num dia frio


quem nunca muda, nunca árvore


friso que o frio às vezes traz um sorriso


quarta-feira, 23 de julho de 2014

.

os dias da velhice são infinitos
são sempre a mesma coisa indefinida
retalhos de memórias d'outra vida
bailando em frente a olhos que não fito

adia toda espera, todo grito
conforta toda dor imerecida
saber que tudo passa, na saída
por ponto em horizonte tão bonito

o mundo gira, gira e continua
pessoas vão e vêm e vivem vãs
bebês têm mesmo céu que suas mães

qual céu, que, indistinto e todo azul
a vista toda abarca, norte a sul
o velho, qual bebê, vê a vida nua

.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

.


nas asas do imaginário
de queijo se faz a lua
na nasa pilotos vários
desejam fatia tua


.

.

mancha no vidro
não lembra despedida
lembra sorriso

fóssil no vidro:
dedo - no sol bem cedo
ri colorido

.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

...


inútil todo esse esforço
diário com que semeias
nem fruto ou mesmo caroço
produz-se de grão de areia


...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

domingo, 6 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

branco

.

cabem incontáveis pontos numa folha em branco
incontáveis linhas entre esses pontos
incontáveis tramas
incontáveis contos
tantos risos, dramas e prantos cabem
de ponta a ponta tanto personagem
que só no rodapé é que se nota:
cabe todo delírio, por mais selvagem
exceto o branco que o papel denota

.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

.

postando por pena
digital: teclado.
um fraco poema
sem papel timbrado

.

sexta-feira, 21 de março de 2014

















a verdade, nua e crua
não pertence a ninguém
ela é minha, nossa e tua
nos espera no harém








sábado, 15 de março de 2014

Meu gato.

Gato. Um animal muito inteligente. Tão inteligente quanto um monte de gente. Ele nos ajuda matando ratos que invadem nossa moradia, noite e dia. Tão belo quando salta, ele parece um astronalta. Esse poema me faz chorar ;( de tão belo o gato é. Pena que meu gato fugiu, mas. Enfim agora ele está mais feliz :) esse. Poema é dedicado ao meu legítimo tigre gato :)



aparentemente minha filha andou mexendo em meu smartphone. :)  gostei

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Somehow
as the sun goes down
so go my eyes
Looking cold ice
And fresh
Upon the reflex
Sunshine makes
On the lake bed