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queimada -
última raiz
solo cede
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retratos líricos de um eu perdido
como é sensível nossa insensa tez
ao menor toque, mesmo que não frio
dobra-se, encolhe e nu, ora arrepio
ora envergonho orar mais desta vez
nenhuma crença mais intensa fez
duma criança, jarro ora vazio
num vasto lago onde jorra um rio
sua vazão, corrindo densas leis
lago cresce e transborda, ora à porta
ora à janela, toda sua revolta
por preso estar à forma que o comporta
quando se fecham, tanto mais se volta
contra quem há desfeito de suas bordas:
chove que a todos cobre a insensa tez
desaba sobre mim a escuridão
e a noite como foice me degola
cadáver sem uma boca, logo agora
que berro, sem demora, morre então
os ecos em meu peito ao infinito
borbulham sufocados, tudo em vão
as sombras que sufocam quando grito
são surdas como as portas, que aflição!
silêncio tão completo me recobre
conforto não encontro nesse leito
foi feito de dejetos pouco nobres
um túmulo onde jaz a mim afeito
meu sonho, que de dia, se descobre
murmura mesmos ecos com efeito